E se contasse que pediram ao sujeito que fosse em busca de um deserto. E que nesse deserto, o sujeito encontraria a deus. Eu mesmo riria.
Que num deserto o homem encontrasse algo além de sede e calor, eu mesmo riria.
E se esse algo mais fosse deus ou outra idéia estapafúrdia desse tipo, eu mesmo perguntaria se existe algo mais que possa aplacar essa sede que eu sinto de estar vivo. Algo mais que água e vida, que eu sinto correndo pelas minhas veias, fluindo de dentro para fora de mim. Tocando o mundo.
Ainda assim, eu fui.
Não por ordem, ou por qualquer determinação.
Nem mesmo a curiosidade me tiraria do sólido chão de cimento que eu levei anos para conseguir.
Eu estava firmemente disposto a não me mover de forma alguma.
Mas o solo mesmo se moveu.
E me vi no deserto.
E como não havia a menor esperança dentro de mim, de que deus estivesse naquelas areias, buscando algum idiota para tentar convencer das suas idéias sobre si mesmo, eu fiquei só com os meus botões.
No princípio a idéia de que nenhum semelhante ou dessemelhante pudesse me azucrinar com as suas questões insolúveis me trouxe plena satisfação.
Atirei longe o calendário e o relógio. E afirmei solidamente que não me comprometeria com nada mais, além de mim mesmo. E postei-me ali, sentado a contemplar o imenso vazio que se colocara sob os meus pés.
Me aborreci logo daquele silêncio. E logo passei a conversar comigo mesmo, desabafando comigo as minhas irritações, numa espiral louca que culminou com um desespero seguido por uma imensa irritação. E voltei ao princípio, azucrinado comigo mesmo.
Tentei em vão dormir, para livrar-me da minha companhia.
Mas o silêncio não chegava nunca.
Irrompi uma longa corrida, escapando por entre as dunas, na esperança real de me perder de mim mesmo. Mas cansei, e acabei me alcançando. E mais uma vez, fiquei só.
Esse foi o primeiro dia.
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