sexta-feira, 7 de outubro de 2005

O governo me surge com um referendo sobre o desarmamento. E generosamente nos dá a oportunidade de escolher entre duas opções: se queremos que o Estado nos mate, ou se nos mataremos uns aos outros. A isso se resume a nossa capacidade de interagir com ele.

Não sou favorável às armas. Tenho a forte convicção de que a arma é o instrumento que o covarde usa para fazer valer a sua vontade sobre a dos demais. Daí decorre, evidentemente, que o Estado é a arma mais eficaz já inventada, porque permite que a aristocracia faça valer a sua ganância por cima da miséria da maioria. Sem que precise apertar o gatilho. O crime perfeito.

Voto a favor do desarmamento, pretendendo ir além das armas de fogo, que são o tema em questão. Voto pelo final de todas as armas. Pelo encerramento dessa cultura de violência, de egoísmo, de impotência, de medo. Voto pelo final desse culto ao sofrimento, desse elogio da vítima. Pelo final desse sistema em que o supremo herói é um garotinho mimado que faz com que o mundo inteiro limpe o bidê em que ele defecou erroneamente, pensando se tratar da privada.

Dirão que sou um sonhador e acharão belas as minhas palavras, guardando-as para um futuro utópico, mas não possível. Dirão ainda que é preciso me salvaguardar com relação ao meu vizinho, porque ele pode roubar o que possuo (que é tão pouco). Que devo me municiar preventivamente, para evitar que levem o pouco que possuo.

Mas efetivamente, quem é que leva todos os dias, o pouco que possuo? Quem é que me rouba rotineiramente, sob os mais diversos pretextos? Quem me obriga a ingressar todos os dias numa ciranda infinita de envelopes que se somam, e que subtraem de minhas economias o dinheiro que ganhei com o meu trabalho? Quem é que me rouba a poesia e que me obriga à venda do invendável? Quem é que me subtrai a vontade e compactua para que eu persista em temer o meu semelhante? Quem é que me compra inteiro, paga a metade e me vende pelo dobro?

O resultado dessa equação é sempre o mesmo: o Estado. E o dedo no gatilho daqueles que o possuem, os Aristocratas, nas suas infinitas representações.

E enquanto nos debatemos, escolhendo entre o sim e o não, a Aristocracia vai fazendo os seus conchavos. Sim, porque não nos esqueçamos que há um inquérito envolvendo ministros, deputados e empresas de todo tipo. Lobbies, espionagem, lavagem de dinheiro, assassinatos. A Aristocracia chafurdando no seu Estado de merda. E roubando o nosso dinheiro, enquanto acusam o nosso concidadão de ser um marginal, porque roubou um banco, ou uma casa.

Quantas casas o Estado e os Aristocratas nos roubam por hora? Quantos bilhões nos roubam os bancos? Quantos destes renomados assaltantes do povo foram parar nas garras da justiça? Dois? Três (me esqueço do Juiz Lalau... Aliás, o que é dele?)

E então surgem eles com essas manobras de sempre. Ora nos dão a chance de votar em qualquer coisa. Ou nos dão de presente uma fundação qualquer, para resolver os problemas que o Estado não resolve, tomando o lugar das nossas livres associações. Ora publicam mentiras em suas revistas e jornais. Ou criam fantasias em suas emissoras de TV que nos levam a votar naquilo que eles desejam que votemos. E a nossa participação na sociedade se resume em trabalhar e pagar contas. Trabalhar para que o Estado e as Empresas a ele ligadas nos roubem todos os dias. Nos vendam mentiras.

Não estou pondo em cheque a validade do referendo, como mecanismo de participação popular. Mas porque não criam canais para que nós decidamos o que deve ser referendado? Porque não nos permitem opinar sobre outras questões importantíssimas, como a distribuição de renda, a dívida externa, ou uma lei de responsabilidade política que nos permitisse demitir os políticos que nos atraiçoam depois das eleições?

Porque não nos permitem terminar com essa última arma que é o Estado?