Uma tosse. E a sensação de que algo estava me invadindo pela boca.
Assim principia o terceiro dia.
Tosse. Tosse. Uma mosca.
Pisei-a, matando-a mais de cem mil vezes, com cuspe e pisadas. Exauri-me de tanto matá-la, como se ao fazê-lo pudesse estar dizendo a todas as outras criaturas que se afastassem de mim, que jamais tentassem entrar pela minha boca ou por qualquer outro buraco de mim, porque eu as mataria mais de cem mil vezes cada uma.
Cuspi cem mil vezes antes de perceber que minha boca estava seca, e que não havia maneira de molhá-la novamente.
“Mosca do caralho!”
Como se a mosca, do caralho ou de quem quer que seja, fosse a responsável pela secura dos meus lábios.
A mosca havia feito algo irremediável, de qualquer forma.
Não me restava outra alternativa senão abandonar o meu posto definitivamente.
“Onde é que se esconde a água num deserto?”
Queria roubar o tesouro precioso da terra, mas não sabia por onde começar.
Saquei do galho e rumei sem rumo, esperando que o deserto, num gesto indiscreto, me revelasse onde estava o seu butim, mas a areia era pudica demais.
Mais uma vez, prostrei-me no chão.
Rios e rios escorriam de mim, sem que eu encontrasse rio algum.
Não sabendo achar, esperei que fosse revelado, mas nada surgiu.
Silêncio. Sem vento. Sem água, nem nada.
Um zunido. Uma mosca. Um tapa.
Um silêncio.
E esse foi o terceiro dia.
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