segunda-feira, 14 de abril de 2008

Videobook

Aqui, alguns dos meus trabalhos em teatro e vídeo.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Campo de Visão

As pessoas ficam dispostas nos lados de um território e não devem se encarar. Devem buscar o vazio que pode ser encontrado entre uma pessoa e outra e nessa situação é preciso se manter pronto, à espera de algo. Esse é o ponto zero, aquele em que se está preparado para entrar em cena.

Há uma regra: em um momento será escolhido aquele que irá liderar o grupo num curto espaço de tempo. Todos os outros devem se colocar na mesma direção do lider e acompanhar todos os movimentos por ele propostos sem que se olhe diretamente para ele. É preciso que o líder esteja nessa área chamada "campo de visão". O movimento só será iniciado quando houver outro movimento no campo de visão. Enquanto não vemos nada, não nos movemos.

Então voltemos ao ponto zero. Ali ficamos, aguardando, com toda a energia preparada para ser empregada. Não é um estado de descanso, de descaso. Num sinal devemos nos mover, fazendo a escolha de apenas um gesto expressivo. Este deve estar imbuído do estado poético, daquele em que imagina lugares possíveis e outros sentires.

Dali se pode evoluir para outras escolhas, sempre dialogando com outros estímulos, ora fornecidos pela música ambiente, ora oferecidos pelos parceiros de jogo, ou por aquele que orienta o jogo.

Então se escolhe o líder.

Liderando, me ocupa que todos estejam participando. Meu movimento não pode ser mais tão ensimesmado. Há uma preocupação em que os outros entendam o que eu proponho, para que o fluxo do jogo não seja interrompido. Se pode brincar com essa responsabilidade, mas não se pode negá-la, sob a pena de não liderar ninguém, porque ninguém compreeende o que se deve fazer.

Liderado devo assimilar o que está sendo proposto e tornar aquilo meu. Acompanho o outro porque aquele movimento proposto me permite ampliar o meu repertório corporal. Acompanho porque me sinto integrado ao todo, ainda sendo eu mesmo.

Furtos

Eu me mudei para cá por causa do silêncio e da possibilidade de chegar logo ao local de trabalho. Gostava de sair na rua e aproveitar o silêncio. Me orgulhava de um horizonte possível e de poder encontrar as pessoas na rua e conversar.

Se foram apenas três anos e as empreiteiras me roubaram o silêncio, o horizonte e a vizinhança.

Outro dia o sindicato da construção civil veio fazer um protesto e uma convocatória aos funcionários da obra da esquina. Às seis da manhã! Começaram o discurso pedindo desculpas da vizinhança (de minha parte aceitas) e dando os informes gerais de a quantas anda a exploração do trabalhador da construção civil. E se seguiram três discursos emocionados e as ovações habituais. Assim mesmo, bem cedinho...

Voltei do trabalho numa tarde e percebi que os carros que haviam estacionado em frente à obra estavam todos da mesma cor: cinza cimento. A obra tinha impregnado todos os carros com o cimento, sem que houvesse um aviso sequer dessa possibilidade. Me lembrei da minha vizinhança em Quitaúna, quando a gente chutava a bola de capotão suja de esgoto nos carros e paredes dos vizinhos e ouvíamos dos nossos pais que o certo era que a gente lavasse e deixasse as coisas como estavam antes da nossa brincadeira.

Bem, a Cyrella não mandou lavar os carros dos vizinhos. Tampouco a Abyara ou a Tecnisa.

Me perguntam "Qual a minha idéia de paraíso", me oferecendo apartamentos caríssimos de três ou quatro dormitórios, aqui na esquina da minha casa. Bom, minha idéia de paraíso era o que eu tinha antes deles chegarem aqui.

Agora, se eu quiser o silêncio vou ter que esperar que eles destruam os outros quarteirões do bairro e terminem de construir suas torres. Se eu quiser meu horizonte, vou ter que comprar o apartamento que eles vendem, e minha vizinhança está sendo substituída gradativamente pelos habitantes anônimos e assustados dos condomínios de alto padrão, em seus automóveis blindados e com vidro fumê.

Qualidade de vida é para quem pode comprar.