quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Último Segundo

Eu me lembrava de um filme e via o bombeiro salva vidas de sunga vermelha.


E então eu dava risada, porque me ocorria uma piada preconceituosa sobre homosexuais e bombeiros de sunga vermelha.


E então eu estava me afogando, porque havia tentado salvar meu filho.


Virava a cabeça para o lado e via que eles estavam tentando reanimá-lo, mas que nós o havíamos perdido.


Eu então morria.


Eu pedia a Deus que não me levasse ainda, porque eu queria acompanhar os meus filhos crescendo, fazendo as suas escolhas, aprendendo a estar aqui e nessa hora, algo em mim perguntava se realmente eu acreditava que quando eu fosse embora, eu não estaria mais em companhia deles.


E eu me lembrei do meu avô.


E de como eu sentia a presença dele comigo, mesmo depois que ele parecia ter ido embora.


E nessa hora eu me dei conta de que eu sempre estive aqui e sempre estaria.


Até aquele momento eu achava que a vida era uma espécie de piada, porque havíamos nascido sozinhos e morreríamos sozinhos e que durante toda a experiência estávamos submetidos à companhia de outros. Mas que a verdade profunda é que estamos sempre sós.


No último segundo de vida, eu me dei conta de que nunca estive só, nem nunca estarei.


E agradeci por estar na companhia de todos vocês.


De tudo.



Do Todo.