“O maior ensinamento que o teatro pode trazer ao homem é sobre a sua própria humanidade”.
Às vezes eu fico me perguntando porque cargas d'água eu transformei o teatro em meu ofício e nunca encontro uma resposta breve. E se me é difícil explicar o por que eu faço teatro, imagine explicar porque raios eu resolvi ensinar este ofício a outros.
Não é uma razão dizer que o teatro é importante, porque a cultura é importante e etc... porque se eu tiver que escolher entre um livro e um pedaço de pão, e estiver morrendo de fome, vou preferir o pão porque o gosto é muito melhor.
Também se pode dizer que o teatro é uma panacéia universal pois desinibe os tímidos e acalma os agitados. Mas existem soluções mais simples para estes dois problemas, de forma que as respostas vão minguando...
“É uma boa forma de contar uma história, ou de ensinar alguém a contar uma história”. Mas o teatro não é melhor nem pior nisso do que as histórias em quadrinhos, os RPGs, o cinema, a literatura, a televisão, os video-games, e todas as outras formas pelas quais nós, seres humanos, resolvemos contar algo a outros seres humanos.
E as alternativas vão rareando cada vez mais, até que ficamos nós, eu e você com mais uma questão complicada que revela o quão frágeis são as nossas certezas... Mas espere aí! Aí nos encontramos. Na fragilidade dessas certezas. Nos nossos conflitos com elas. E nos conflitos que podemos ter um com o outro na tentativa de esvair mais essa dúvida.
Finalmente! Essa é a matéria do teatro. Aí está a sua importância.
“Aonde? Aonde?” Você pode me perguntar, voltando ao começo do texto para ver se eu escondi alguma mensagem cifrada entre os parágrafos. Mas eu sugiro que siga adiante.
Creio que a coisa mais importante que aprendemos com o teatro é a lidar com as diferenças, com os conflitos que podem surgir quando duas ou mais pessoas se envolvem na solução de um problema.
Construindo narrativas, se compreende como surgem os conflitos, como existem diferentes pontos de vista sobre a mesma situação e como estes pontos de vista podem se somar ou subtrair-se, apressando ou retardando a solução do problema proposto.
O teatro é sempre coletivo. Sempre. Mesmo quando sozinho eu escolho representar um personagem, sem envolver nenhuma outra pessoa nisso, estou trabalhando coletivamente. Eu e o personagem. Essa primeira diferença. O personagem é um outro, diferente de mim mesmo. Quando o construo, compreendo-me e compreendo a diferença. E me reconcilio com ela, porque coloco-me no lugar do outro. Isso é compreender o coletivo.
Ufa! Espero que tenha sido claro. E se não, avanço mais um pouco...
Haja visto que estamos sempre em grupo, tentando avançar na construção de uma narrativa que nós vamos criando juntos, as nossas diferenças de abordagem vão aparecendo. E os conflitos também...
Mas como a matéria da narrativa é o conflito, e nós estamos compreendendo esta mecânica, os nossos conflitos para tentar solucionar a narrativa vão sendo também compreendidos como diferenças de abordagem. E forma-se um espelho, onde os conflitos expostos pela narrativa, são gerados por conflitos expostos na tentativa de construí-la, porque estamos fazendo isso juntos.
Bem... Acho que agora eu confundi um pouco a ficção (narrativa) e a realidade (a construção da narrativa)... Além disso, o parágrafo anterior tem conflitos demais...
Acho que as aulas de teatro podem proporcionar ao aluno um espaço aonde a matéria mesma da aula é o conflito e a melhor maneira de solucioná-lo.
E se isso não for ouro no mundo em que vivemos, é melhor eu me aposentar ou procurar outra coisa para fazer.
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