“Esse sol que vá para a casa do caralho! Ninguém te chamou aqui, filho da puta!” - Assim comecei meu segundo dia, insatisfeito com o dia, assim como estivera com a noite.
“Que vão todos para o diabo, e que ele mesmo não venha até aqui reclamar comigo de superlotação no inferno. Vá para a puta que o pariu, seja ela quem for.”
E assim segui num longo discurso de congratulações a tudo e a todos pela imensa merda em que eu havia nascido junto com todos eles.
Armei-me de um galho qualquer e saí distribuindo bordoadas ao vento, que obviamente se esquivava diversas vezes, cansando-me. Por fim, o vento mesmo me abandonou e fiquei só, num imenso calor de meio dia.
O sol talvez não tivesse me entendido bem.
“Que caralho que eu tenha vindo me meter numa situação dessas! Puta que o pariu!”
Vinha eu ao meu encalço novamente.
“O problema é esse sol.” Redargui, procurando um outro culpado.
E como o cajado não alçava o céu, resolvi empregá-lo para algo mais que as exaustivas bordoadas. Resolvi usá-lo como uma coluna, numa empreitada para livrar-me do sol.
Finquei-o no solo, demarcando um limite entre mim, o sol e as demais criaturas de deus, ou de quem quer que seja, não importa.
“Isso aqui é meu! E vocês que se fodam!”
Afastei-me de minha propriedade e saí em busca de algo que me servisse de teto.
Andei horas a fio, tendo por centro a coluna-central, mas não encontrei nada em extensão suficiente para configurar-me um teto.
O sol cansou-se aos poucos de fritar-me e retirou-se para a puta que o pariu.
Fiquei sem teto, em companhia da lua e de um deserto indeciso. Não sabia se era frio ou quente. Mudava de opinião constantemente.
Recostei-me na coluna, apenas suportando a companhia da lua que a esta altura não se revelava plenamente. Eu podia apenas vislumbrar a chateação de seu contato, sem no entanto vê-lo efetivado. Chateei-me só de pensar no contato com uma lua cheia de si. Insuportável.
E assim, chateado, encerrei meu segundo dia.
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