terça-feira, 21 de julho de 2009

Smithfield!!!

Ontem à noite eu vi o pânico em Porto Alegre. Cinco pessoas já morreram desde o início da epidemia de gripe. As missas estão proibidas. Assim como o cinema. Ninguém falou nada sobre o teatro, talvez por falta de público. O ponto é que os agrupamentos humanos podem ser letais nesse tipo de caso.

Os apresentadores do Jornal Nacional me tranquilizaram ao dizer que o governo terá vacina contra a gripe no próximo ano e que por hora já tem preparadas as matérias primas para a confecção de nove milhões de doses de Tamiflu, medicamento usado nos casos graves da gripe e que é fabricado pela Roche. Cada caixa, com dez comprimidos, custa cento e sessenta reais. É realmente uma maravilha que o governo brasileiro esteja distribuindo isso gratuitamente nos hospitais públicos.

No entanto, o governo alerta contra a automedicação, dizendo que a superdosagem de Tamiflu gerar no vírus uma resistência ao medicamento. Tamiflu só deve ser usado em casos graves e no geral, a gripe deve ser tratada como uma gripe comum, reforçando as defesas do organismo do doente para que ele se cure.

Também foi importante a informação de que as máscaras devem ser usadas pelas pessoas doentes e não pelos saudáveis, porque o pânico de contrair a gripe estava fazendo com que as pessoas comprassem máscaras desesperadamente e isso estava acabando com os estoques. Na Argentina, a demanda por máscaras cirúrgicas aumentou 800% só na cidade de Buenos Aires. Em São Gabriel, no Rio Grande do Sul, o estoque das máscaras acabou em três dias.

Smithfield!!! (como se fosse um espirro) Desculpem... Um espirro agora é o suficiente para uma polêmica.

Mudei para outra emissora e em cinco minutos de telejornal testemunhei oito mortes, pelos mais variados motivos. Balas perdidas, atropelamentos por motoristas bêbados, suicídios, desentendimentos familiares, velhice. Em cinco minutos!

Na Argentina, 17 mortos, desde 24 de abril. Em Porto Alegre, 5 mortos. No México, epicentro da questão, 23 mortos. Em todo o planeta, com seus seis bilhões de habitantes, a pandemia já vitimizou mais de 500 pessoas.

Os governos de todo o mundo alertam que os mais suscetíveis à gripe são os idosos, crianças e mulheres grávidas. Também recomendam que não se viaje à Argentina ou ao México. Lavar as mãos freqüentemente com água e sabão, evitar tocar olhos, boca e nariz após o contato com superfícies, não compartilhar objetos de uso pessoal, cobrir a boca quando tossir ou espirrar, são conselhos úteis e revelam boa educação.

Quando a novela começou eu estava me perguntando de onde veio isso tudo. Será um indicador do final dos tempos, como as pragas do antigo Egito ou as profecias de Nostradamus? Quinhentas pessoas, em todo o mundo, em três meses de doença? Onde iremos parar?

Uma gripe, que surge do nada, no meio dos porcos e que passa a atacar seres humanos, levando-os à morte. Uma praga enviada para nos punir.

A gripe se chamaria Mexicana, porque a origem tinha sido do México, e também para contrastar com a Espanhola. Os mexicanos chiaram, dizendo que o turismo ia cair. Depois se chamou suína, porque vinha dos porcos. Os criadores de porcos reclamaram sobre a queda dos preços da carne. De forma que recorreram aos cientistas que chamaram a gripe de Influenza A (H1N1), nome dado ao vírus.

Influenza A (H1N1). De onde veio isso?

A cidade de La Gloria, próxima de Oaxaca no México foi o foco inicial da gripe. Duas crianças morreram da gripe. Edgar Hernandez, um menino de quatro anos, é tido como o caso inicial da gripe que ameaça o mundo. O senhor Joseph Luter Terceiro diz que é uma infeliz coincidência que dois de seus criadouros industriais de porcos fiquem em cidades vizinhas de La Gloria: Xaltepec e Perrote.

O gerente da Smithfield em Xaltepec, Sr. Vitor Ochoa, disse que os quinze mil animais são vacinados regularmente; que a fábrica atende aos mais altos requisitos de higiene e saúde e ainda, que a piscina com a merda dos porcos, resíduo gerado pela fábrica, é fechada hermeticamente, para evitar contato com o ar. Os porcos de Xaltepec são tratados como reis! A eles, basta comer, crescer e virar presunto.

Por outro lado, um em cada seis, dos três mil habitantes de La Gloria relataram problemas de saúde. Também mencionam que suas casas estão sempre repletas de moscas e que isso poderia ser a causa de tantos problemas. O governo mexicano inicialmente achou que o surto de La Gloria era de uma gripe convencional, mas quando as coisas se complicaram, a primeira providência foi aplicar inseticidas para combater as moscas.

A Smithfield costuma ter alguns problemas com a higiene. Onde quer que haja uma fábrica da Smithfield no mundo, existem ativistas ambientais realizando protestos contra as suas práticas. Moscas, cheiro de merda ou carniça e porcos roídos por vermes são algumas das queixas mais comuns dos afortunados vizinhos de seus criadouros. Em 1997, pagou ao governo Norte Americano uma multa de US$ 12 milhões por violar uma lei sobre a limpeza da água. Em 2007 foi acusada por moradores do Missouri de violar a ordem pública. No mesmo ano, gastou US$ 13 milhões para conter um surto de gripe suína na Romênia.

Quando a Smithfield procura um lugar para abrigar uma de suas fazendas, verifica a flexibilidade das leis locais, o custo dos oficiais de justiça, a docilidade da população e a abundância de água. Segundo o Sr. Joseph Luter Terceiro, de sessenta e sete anos, sua empresa está sempre aperfeiçoando seus criadouros de porcos e os ambientalistas são apenas gente neurótica com um funesto plano de tornar toda a gente vegetariana.

Ok. Eu avancei demais o sinal.

Os funcionários da Smithfield estão apenas fazendo o seu trabalho e o Sr. Joseph Luter Terceiro é apenas um sujeito bem sucedido no seu ramo de negócio.

Vocês podem estar imaginando que eu estou sugerindo que essa fábrica seja fechada, que seu dono e os acionistas sejam indiciados por crimes contra a humanidade, que paguem indenizações para o tratamento contra a super-gripe em todo o planeta e que financiem a pesquisa para a vacina, distribuindo-a gratuitamente a cada pacote de carne de porco enlatada que eles vendem.

Acho melhor pararmos por aqui.

Nossa conversa está ficando cada vez menos lucrativa.

Smithfield! (como se estivesse espirrando)