Amizade é um puta combustível pro teatro. Principalmente para a gente que é comediante. No ano passado marcamos uma breja na casa do Gui para fazer uma leitura sem compromisso do texto novo do Léo. Eu, Glaucia, Léo, Fabi, Zé Roberto, Renatinho Schultz, Guilherme e uma outra mina que eu não me lembro (talvez a esposa do Renato ou a namorada do Zé... eu bebo cerveja demais).
Texto fudido! Soco no estômago, ácido pra caralho. Tinha uma penca de personagens sobrando e umas cenas à mais, que pareciam coisa de quem escreve para novela. Mas era muito bom mesmo! O Léo falava que o Mário Frias tinha gostado do texto e que talvez quisesse fazer.
"Quem é Mario Frias?" - perguntei. "Um cara que fez Malhação e depois aquela novela da Globo em que a Suzana Vieira tinha nome e sobrenome de cores e um monte de filhos. Ele era um político amigo de um dos filhos da Suzana Vieira". Fudeu. Tem quase dez anos que eu não assisto uma novela da Globo, mas já percebi umas três ou quatro em que a Suzana Vieira se chama Azul Celeste, Rubra Rosa ou Branco Gelo. Acho que ela faz mershandising (é assim que se escreve essa merda?) subliminar da Sulvinil.
Não lembrava nem fudendo da cara do figura. Os caras iam me dando caracterísiticas mais detalhadas e u ia tomando mais cerveja e a coisa toda ia ficando mais confusa. Enfim... Aquilo de sempre.
Fizemos "Escombros" lá no Parlapatões e marcamos uma reunião com o Mário Frias numa pizzaria na Vila Madalena. O cara é carioca e um bom paulista não entende os cariocas. O nego falava que ia botar grana do bolso, que viria do Rio todo final de semana, que ia arranjar 100 pilas para botar na peça. Eu ficava olhando aquilo tudo e pensando: "Será que isso é verdade?" Olhando o cara ali na minha frente eu ficava me lembrando da Anunciada, que era uma menina que a minha avó e o meu avô criaram lá em Sapé, na Paraíba. Ela assistia a televisão o dia inteiro e eu a chamava de Televina. Pensava nela ali, na mesma mesa em que eu estava, vendo o carioca contar vantagem. Comédia.
É lógico que o nego deu um perdido no Léo. Hahaha. Léo ligava tentando ver o lance da captação e o cara sumiu. Só apareceu na capa da Caras na semana da nossa estréia no Centro Cultural. Tava casando em Floripa (acho). Nego queria fazer a peça porque tinha ficado mordido com a imprensa-contigo quando ele se separou da Nívea Stelman. Mas o novo casório era capa da Caras. Cada coisa doida nesse meio...
No fim a gente estreoou na marra, do jeito que tem que ser. Não dá para fazer teatro nesse país sem ser nesse risco filho da puta de tomar um prejuízo maior que o anterior. Pegamos 10 pilas emprestados e chamamos o Vitão para ser o administrador da nossa temporada. Ensaiamos durante um mês e pouco sob a batuta espetacular do Lazzaratto e mandamos pau na sexta passada.
Cenário meu que deu um puta trampo porque eu ficava pensando nos mil reais que eu poderia gastar. Dormi mal durante duas semanas, mas depois que conversei com o pessoal sobre aumentar a verba da cenografia, fechei o cenário e mandei fazer.
É uma merda isso! A gente trabalha pra caramba, gasta uma grana que nem tem, atrasa conta em casa, perde o sono... E só consegue cobrir o prejuízo se tiver um neguinho da Globo no elenco. Aí sobra grana! Não importa que merda você está fazendo. Basta ser da Globo e já era. Sucesso!
Eu tava começando a pensar "Globo de cu é rola" por causa do lance do Mário Frias (que se estivesse no elenco ia ajudar pra caralho na bilheteria) quando na segunda-feira me liga o Zeca Bittencourt, do Departamento de Recursos Artísticos da Rede Globo de Televisão.
Ai caralho!
"Liga depois. Ainda não sei o que vou fazer. Tô sem grana, mas preciso pensar". Tava em pleno almoço no Rancho Nordestino, comendo um frangão com a Clau e o Pedro quando atendi o celular com essa coisa toda. Perdi a fome, fiquei nervoso e comecei a chorar. Eu tenho um puta medo disso tudo!
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Sendo Ganso
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