Um reformador, ele era.
Achava que o mundo era uma máquina quebrada cujo funcionamento ele a muito havia desvendado. Todos os esquemas, toda a mecânica, todas as possibilidades, tudo...
O que ele sabia, sabia.
O que não sabia, sabia que saberia.
E assim seguia.
Se lhe perguntavam o que estava fazendo, ele interrompia sua longa cadeia de raciocínios e observava o inquiridor.
Sabia que sabia o que o outro queria saber e engrenava uma longa série de elocubrações e sentenças explicando toda a mecânica do cosmos, da forma mais simples que poderia conceber, rica em metáforas e alegorias, repleta de jogos de lógica e de um certo tempero irônico ao que o outro redarguia com um QUÊ? que ele logo respondia com outra série de raciocínios até que soubesse que, de fato o outro sabia.
E seguia reformando, ainda que abandonasse o outro com um QUÊ? ainda maior e mais confuso.
Não suportava a ajuda de outros, é claro. Porque a cada parada explicatória a máquina do mundo se complicava, e sua função lhe obrigava a agir.
De modo que seguia reparando tudo atinar que estava cansado.
Então mudava de lado e ia consertar algo noutra parte, sem perceber que ficava só. E que a tarefa a que se propunha era colossal.
Que o cansaço o fosse massacrando, tudo bem.
Mas lhe sobrevinha uma irritação constante com a incompreensão. na sua cabeça, os outros eram peças da máquina cuja direção ele revertia ao explicar o mundo e seu funcionamento correto.
Ou ainda, o outro era a ferramenta que ele usava para consertar tudo.
Bem... Seguiria assim.
Mas um dia compreendeu sua própria mecânica e então se irritou, porque se achava mais humano que os demais, que eram para ele autômatos.
Se soube máquina. E isso era um defeito.
Engrenou então um reformismo de si. E se fechou para balanço. Era preciso se humanizar.
Mergulhou no labirinto de sues raciocínios e começou a ter vários QUÊS a seu respeito.
E ia e se julgava e se reformava e não conseguia e se asfixiava e perdia e seguia e ia, ia, ia...
Não foi pela SUA longa série de raciocínios que ele chegou ao entendimento de que só reformaria a máquina do mundo se reformasse a si mesmo e ensinasse a outros a mesma coisa. Se ensinasse a reparar o que havia ensinado, ensinando uma direção nova, que era ensinar o outro a ensinar que o mundo poderia ser menos mecânico e mais humano.
E avançando nisso, se humanizou, humanizando a outros.
E o mundo não precisou mais de conserto.
Porque não era uma máquina.
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