terça-feira, 5 de maio de 2009

Um deserto - dia 6

O sexto dia surgiu no meio da minha retirada estratégica, me pegando de surpresa.


Vai assustar a puta que te pariu! Disse eu, desconfiado deste novo dia, assim como estivera de todos os demais.

Continuei andando, ignorando a existência do dia, fingindo que ele e a noite eram para mim a mesma coisa.

Dia, noite, sol e lua... Fodam-se! Para mim vocês são todos os mesmos. E andava e andava, tentando em vão deixar para trás as indesejáveis companhias.

Por fim, cansei-me uma vez mais.

A barriga vazia. A boca seca.

A pergunta de "onde eu estava", se fazendo cada vez mais presente.

No sexto dia eu me tornava contemplativo, através da fome. Queria subitamente compreender o deserto em todos os seus detalhes. Saber onde aquela massa de areia e sol escondia qualquer coisa.

Tinha vindo ao deserto porque queria o vazio.

Agora que eu tinha o vazio dentro de mim, buscava alguma coisa.

Foda-se, eu me viro! Disse eu, com a última gota de orgulho levando mais um dia para evaporar.

Qualquer ponto do deserto era a mesma coisa.

Faminto, as direções começam a ficar mais calculadas.

Sem rumo, encerrei o meu sexto dia.

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