Existe uma seita secreta, entre os catadores de sucata, cujo messias preconiza uma salvação que virá dos circuitos eletrônicos.
Tais catadores resgatam dos lixos as sucatas de eletrodomésticos e as levam para algum lugar secreto, nos subterrâneos da cidade, onde habita o messias.
Este homem, de uma capacidade sobre-humana, reúne os circuitos aproveitáveis em tais aparelhos na esperança de construir um dispositivo que transportará as almas de seus fiéis ao paraíso.
A máquina, segundo dizem, tem mais de oitenta metros quadrados de área e está prestes a ser concluída. Alguns dos fiéis catadores de papelão foram sacrificados nos incontáveis testes do dispositivo de transporte.
Conta-se ainda que o corpo do messias é repleto de placas de circuito impresso, de finalidade desconhecida, que parecem se alimentar do próprio corpo messiânico. As más línguas dizem que o messias não estaria vivo se não fossem tais placas. Mas os fiéis acreditam que ele é que alimenta os dispositivos, que com certeza, devem ser os controles da máquina.
Alguns dos catadores de papelão também usam dispositivos anexados às suas roupas e corpos, mas falta-lhes o conhecimento para fazer com que funcionem empregando a energia contida em seus corpos. Neste caso, os dispositivos são apenas fetiches, amuletos. Ou ainda, indicadores da filiação destes catadores.
Não se trata de uma organização política, propriamente. Não há indícios de que a mensagem do messias seja de cunho revolucionário. Vivem em seus subterrâneos, executando suas tarefas rotineiras. Eles são os invisíveis, que se aproveitam das tralhas da sociedade. Ninguém parece se importar muito com eles. São apenas tralhas entre tralhas.
Também não se viu tais homens pregando a sua fé, à maneira dos fiéis de outras seitas. Parecem não se importar com a salvação alheia. Movem-se silenciosamente na superfície da cidade, revirando lixos à procura das peças que faltam ao estranho quebra-cabeça criado por seu líder. Não possuem nenhum ritual de adesão, a não ser a desgraça em que vivem.
Parecem inofensivos, exceto num aspecto: “Como se deu que uma tal organização florescesse em nossa cidade sem que nós sequer percebêssemos?”
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