quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Mudamos

Mudei de endereço físico e de endereço virtual.
Agora tenho casa própria na web: http://algoritmodasexpectativas.com/


Chega lá...


Abraço


Djair

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Coração Partido

Quando a gente é criança, ama tanto alguém, em tamanho silêncio, que até dói. Eu tinha me esquecido dessa dor de estar apaixonado e não ser correspondido. Essa dor de criança. Fui dispensado do Micael no sábado e estou com o coração partido desde então, como se o amor da minha vida tivesse me deixado.


Nada que eu tenha escutado, nada que eu pense, nada além do tempo parecem curar essa dor no peito. Essa dificuldade em seguir vivendo do mesmo jeito.

Nem mesmo estar no palco aliviou esse sentir. Nem mesmo o amor da minha família, tão especial. Nada.

Estou de aviso prévio, até dezembro, mas já não estarei com eles. Nem sei com que coração eu vou até lá assinar a papelada toda da minha demissão nessa semana.

Agora mesmo eu só penso que isso pode ter acontecido para que eu entenda de uma vez o que eu sei fazer com o teatro.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Dadoradas

Minha sogra tem um estilo de fraseado genial. Ela se atrapalha quando está no meio da conversa e solta umas coisas maravilhosas, como as que seguem:


"Cada galho no seu macaco"
"Esse pedreiro vai ver só é bom para coisas mais grotescas, não para acabamento" querendo dizer que o pedreiro é bom para coisas grosseiras.

Genial!

O silêncio

Trabalhei como um camelo para que as coisas saissem bem. Não desliguei do assunto um só momento, pensando em cada um deles, no melhor que eu poderia dizer ou fazer para que eles conseguissem se divertir com a busca. Me ancorei no senso de humor, que me permite dizer coisas duras com a leveza necessária para que elas sejam ouvidas. Estreamos e tudo correu bem.


Há um certo milagre no teatro, que a gente que vive disso conhece: as coisas se ordenam na última hora, porque o espectador exerce um poder misterioso sobre o ator que o ajuda a superar as suas limitações e a se entregar plenamente na experiência.

Mas alguma coisa não saiu bem.

Quatro dias depois do término, tive um encontro com minhas parceiras de trabalho para avaliar o processo e ouvi delas que eu fui negligente, descuidado com o ritmo, desleixado com as minhas funções, que haviam feito o que eu deveria ter feito e que por isso se sobrecarregaram. Que de minha parte faltava abrir a comunicação, que na última hora eu faltei, que não agüentei o processo e por isso fiquei doente, que não fui recíproco, que fui duro demais, que me isolei. Que a peça tinha acontecido bem por milagre.

Eu ouvi tudo isso e sentia que havia verdade nisso. Mas alguma coisa me soava falso.

Que milagre foi esse que fez essa peça acontecer, apesar de um diretor tão ausente?

Milagre é o sujeito nunca ter dirigido uma ópera, ter inclusive resistência a musicais, não entender nada de música e ainda assim, fazer com que um grupo de atores tenha segurança para seguir fazendo a peça até que as coisas vão se ordenando. Aqueles atores entendem muito mais de música do que eu e se eu conseguisse deixá-los seguros no palco, o jogo deles com a música ia dar um jeito de a cena acontecer, mesmo que eu ainda não enxergasse como. Porque é nos atores que mora o teatro.

Milagre é o sujeito se ver diante de um elenco de 29 pessoas com quatorze anos e achar um acordo de grupo em que os 25 atores que estão fora de cena respeitem os outros quatro que estão no palco, ficando em silêncio, cantando, preparando as coisas para as próximas cenas. Milagre é ver um ator que mal conversava comigo ter segurança para expôr uma idéia e vê-la incorporada na peça. Também é um milagre que os outros professores me procurem na sala de ensaios e não me encontrem, embora eu esteja na roda, bem diante deles.

O milagre mesmo é a roda e essa capacidade de nos horizontalizar.

Aquelas pessoas todas, atores, pais, parceiros, músicos, professora... todos eles sabiam mais do teatro que queriam ver do que eu. Se houve um milagre, foi ajuda-los a enxergar isso.

Talvez eles tenham esperado que eu mandasse mais.

Mas eu não quero fazer assim.

Teu jeito é melhor para você do que o meu jeito.


terça-feira, 22 de setembro de 2009

O pacote

O Homem está empacotado. Encaixotado, espremido em caixas sobre caixas. O Homem se produtificou, se transformou num objeto em uma prateleira, ajustando a sua imagem para ser adquirido por outros Homens. O Homem adquire outros Homens e os descarta por insatisfação. O Homem que descarta é descartado e cria uma nova imagem que agrade mais. O Homem empacotado não é mais ele mesmo. Nem Homem é. É coisa.


O que há na embalagem do Homem?

Que fazer com o Homem para que ele se desempacote?

Como re-humanizar a coisa?

Como desconsumir o Homem?

Como gerar um espaço para o Homem expor-se que não seja uma prateleira para ser consumido por outros?

Um lugar onde o Homem é outra vez o Homem.

sábado, 1 de agosto de 2009

Guardas! Um diálogo kafkiano...

Um homem caminha até chegar a um portão. Do lado da entrada, um guarda.

Guarda

Aqui não pode passar.

Homem

Porque não?

Guarda

Não importa. Não pode. Isso basta.

Homem

Mas preciso passar. Tenho assuntos a resolver.

Guarda

Resolva seus assuntos sem passar.

Homem

Meus assuntos dependem de que eu passe.

Guarda

Então não os resolva.

Homem

(Pausa longa) Por favor, amigo. Preciso realmente passar. Se desejar, posso lhe explicar o que vou fazer do outro lado.

Guarda

Desculpe, amigo, mas a mim não interessam os seus assuntos. A mim cabe apenas impedir a passagem de quem quer que seja.

Homem

(Irritado) Escute, amigo, vou passar com ou sem a sua autorização, compreende?

Guarda

Isso já foi previsto. Pois saiba que depois de mim há um outro guarda ainda maior e mais forte. Você pode passar por mim, mas não será possível passar pelo outro.

Homem

Não importa. Vou passar.

O Homem ameaça e percebe que o guarda não vai impedi-lo. Por fim, passa realmente e caminha um pouco. Encontra mais adiante um outro portão e um guarda mirrado, muito pequeno e fraco.

Homem

Quem é você?

Segundo guarda

Quem faz as perguntas aqui sou eu, meu caro.

Homem

Escute, eu não tenho tempo para conversar com você. Tenho assuntos muito urgentes a resolver do outro lado e...

Segundo guarda

Que desacato é esse? Gostaria de ser preso?

Homem

Você é outro guarda?

Segundo guarda

Como assim: “outro guarda”?

Homem

Sim, porque há pouco acabei de passar por um guarda...

Segundo guarda

Há outro guarda?

Homem

Claro que sim, ali, antes...

Segundo guarda

Não minta, farsante!

Homem

Não estou mentindo, senhor. Há um outro guarda ali atrás, que inclusive me preveniu de que o senhor estaria aqui. Ele me disse, no entanto, que o senhor seria um guarda maior e mais forte.

Segundo guarda

Mas eu sou o maior guarda aqui.

Homem

Aqui sim. Mas entre aqui e lá, o senhor fica muito menor, se me permite a franqueza.

Segundo guarda

O quê?

Homem

Sim. E digo que o outro guarda é um mentiroso.

Segundo guarda

O quê?

Homem

Sim.

Segundo guarda

Me acompanhe, por favor.

Homem

Por quê?

Segundo guarda

Vamos, me acompanhe.

Os dois rumam em direção ao portão onde se encontra o primeiro guarda

Guarda

Alto lá!

Segundo guarda

Quem é você?

Guarda

Quem faz as perguntas aqui sou eu, meu caro!

Segundo guarda

Escute, eu não tenho muito tempo para conversar com você. Esse sujeito aqui está fazendo acusações muito graves e preciso...

Guarda

(Para o homem) Você outra vez?

Homem

Você me disse que o segundo guarda seria muito maior e mais forte que você.

Guarda

Sim.

Homem

Mas esse é o segundo guarda!

Guarda

(Para o segundo guarda) Farsante! Você não é o segundo guarda!

Segundo guarda

Claro que não sou! Supostamente eu seria o primeiro.

Guarda

Primeiro? (Zombando) Ha ha ha. O primeiro guarda sou eu, amigo!

Homem

Mas você é menor que ele.

Guarda

Ninguém pediu a sua opinião. (Coloca-se ao lado do segundo guarda e percebe que realmente é menor que ele)

Segundo guarda

O que será que está acontecendo por aqui?

Guarda

Muito estranha esta situação. O senhor não estava informado da minha presença?

Segundo guarda

Não. Na verdade, sei apenas que há um próximo guarda, maior e mais forte do que eu.

Guarda e homem

Outro guarda?

Segundo guarda

Sim. Mais um.

Homem

Isso é demais!

Guarda e segundo guarda

Ninguém pediu a sua opinião!

Segundo Guarda

(Ao primeiro guarda) Se quiser, poderíamos ir ao próximo portão ver o próximo guarda.

Guarda

Como assim?

Segundo guarda

Vamos verificar se há um terceiro guarda.

Guarda

E quem fica guardando o portão?

Segundo guarda

Ninguém, por hora...

Guarda

(Em dúvida) Hmmm...

Segundo Guarda

Vamos?

Guarda

(Para o Homem) Nos acompanhe!

Os três se dirigem ao próximo portão, onde encontram um terceiro guarda. Maior que o segundo, mas menor que o primeiro.

Terceiro Guarda

Alto lá!

Guarda

Você é o terceiro guarda!

Terceiro Guarda

Você me conhece?

Guarda e Segundo Guarda

Quem faz as perguntas aqui sou eu, meu caro.

Guarda

Eu!

Segundo Guarda

Eu!

Terceiro guarda

Na verdade, aqui neste portão sou eu.

Homem

Desculpe, senhor, eu nada tenho com essa questão. Sou apenas um sujeito que tem assuntos urgentes a resolver...

Terceiro guarda

E esse, quem é?

Guarda

A causa de todo o mal-entendido.

Segundo guarda

(Apontando para o Guarda) Você sabia que havia um guarda antes de mim?

Terceiro guarda

Sabia.

Homem

Senhor, eu só gostaria de passar...

Segundo Guarda

Cale a boca!

Guarda

E quem é o primeiro guarda? Eu ou ele?

Terceiro Guarda

(Aponta para o Segundo) Ele. Não é?

Segundo guarda

Não.

Terceiro Guarda

Não?

Guarda

Não.

Terceiro Guarda

Estranho.

Homem

Estranho demais...

Guardas

Ninguém pediu a sua opinião!

Terceiro guarda

Os senhores aguardem aqui. Terei que verificar com o próximo guarda.

Guarda

Outro guarda?

Segundo guarda

E quantos serão?

Homem

Por hora quatro.

Terceiro guarda

(Para o Homem) Que incoveniente!

Segundo guarda

(Para o Homem) Porque você não esquece disso tudo e simplesmente volta outra hora?

Guarda

Isso.

Homem

Outra hora, outra hora... Eu tenho assuntos URGENTES a resolver!

Guarda

Não me importam os seus assuntos. Você não pode passar.

Terceiro guarda

Aqui quem decide isso sou eu!

Segundo guarda

Claro. Claro.

Guarda

Perdão.

Terceiro Guarda

Não por isso.

Homem

Posso passar?

Terceiro guarda

Não.

Guarda

Eu disse.

Os outros (incluindo o homem)

Ninguém pediu a sua opinião.

Guarda

Claro.

Homem

Eu vou passar de qualquer modo.

Terceiro guarda

Passe! Passe! O quarto guarda... O quarto guarda... Esse sim, é terrível!

Guarda

E há outros, viu!

Segundo guarda

Outros?

Guarda e Terceiro guarda

(Combinados, como que fingindo) Há sim! Muitos outros. Milhares!

Homem

Não me importa. Vou passar! (E sai)

Terceiro guarda

(Pausa constrangedora) Quem é o primeiro guarda?

Guarda

Sou eu.

Terceiro Guarda

É por estas razões que não devemos deixar as pessoas passarem, entende?

Guarda

Mas ele... mas ele...

Segundo guarda

Que vergonha...

Terceiro Guarda

Você não tem nada que reclamar, uma vez que o sujeito também passou pelo seu portão.

Guarda

(Zombando do segundo) Ha ha ha!

Terceiro guarda

As pessoas fazem perguntas demais. Nosso trabalho é simples: não deixar as pessoas passarem. Só isso.

Segundo guarda

Só isso?

Guarda

Só.

Segundo Guarda

E onde está o sujeito?

Terceiro guarda

(Silêncio)

Guarda

(Em desespero) Ele passou?

Segundo Guarda

Passou. Agora mesmo.

Guarda

E o que fazemos?

Terceiro guarda

Ele vai encontrar o quarto guarda e desistira.

Guarda

Mas existe um quarto guarda?

Terceiro guarda

Acho que sim.

Segundo guarda

(Imitando) Acho que sim... acho que sim...

Terceiro guarda

Que desacato é esse? Gostaria de ser preso?

Guarda

Eu gostaria de ver o quarto guarda.

Segundo e Terceiro guarda

Não pode passar!

guarda

Vocês não ficam curiosos?

Segundo e Terceiro guarda

Não.

Guarda

Quero dizer, há pouco eu era o único guarda e achava que havia outro maior depois de mim. E a coisa acabava aí.

Segundo guarda

Eu não faço muitas perguntas. Acho que é o melhor a se fazer.

Terceiro Guarda

Concordo. Voltem aos seus postos!

Segundo guarda

(Batendo continência) Sim, senhor!

Guarda

Até a próxima vez!

Segundo guarda

Não haverá próxima vez. Você veio longe demais!

Terceiro guarda

(Para o segundo guarda) E você também. Vão agora!

Guarda

(Batendo continência) Sim, senhor!

O Guarda e o Segundo Guarda saem. Entra o homem, em sentido oposto.

Terceiro guarda

Aqui não pode passar!

E recomeça a cena, em espelho. O terceiro guarda passa a dizer as falas do primeiro e vice versa.

Fim

O sim e o não

terça-feira, 21 de julho de 2009

Smithfield!!!

Ontem à noite eu vi o pânico em Porto Alegre. Cinco pessoas já morreram desde o início da epidemia de gripe. As missas estão proibidas. Assim como o cinema. Ninguém falou nada sobre o teatro, talvez por falta de público. O ponto é que os agrupamentos humanos podem ser letais nesse tipo de caso.

Os apresentadores do Jornal Nacional me tranquilizaram ao dizer que o governo terá vacina contra a gripe no próximo ano e que por hora já tem preparadas as matérias primas para a confecção de nove milhões de doses de Tamiflu, medicamento usado nos casos graves da gripe e que é fabricado pela Roche. Cada caixa, com dez comprimidos, custa cento e sessenta reais. É realmente uma maravilha que o governo brasileiro esteja distribuindo isso gratuitamente nos hospitais públicos.

No entanto, o governo alerta contra a automedicação, dizendo que a superdosagem de Tamiflu gerar no vírus uma resistência ao medicamento. Tamiflu só deve ser usado em casos graves e no geral, a gripe deve ser tratada como uma gripe comum, reforçando as defesas do organismo do doente para que ele se cure.

Também foi importante a informação de que as máscaras devem ser usadas pelas pessoas doentes e não pelos saudáveis, porque o pânico de contrair a gripe estava fazendo com que as pessoas comprassem máscaras desesperadamente e isso estava acabando com os estoques. Na Argentina, a demanda por máscaras cirúrgicas aumentou 800% só na cidade de Buenos Aires. Em São Gabriel, no Rio Grande do Sul, o estoque das máscaras acabou em três dias.

Smithfield!!! (como se fosse um espirro) Desculpem... Um espirro agora é o suficiente para uma polêmica.

Mudei para outra emissora e em cinco minutos de telejornal testemunhei oito mortes, pelos mais variados motivos. Balas perdidas, atropelamentos por motoristas bêbados, suicídios, desentendimentos familiares, velhice. Em cinco minutos!

Na Argentina, 17 mortos, desde 24 de abril. Em Porto Alegre, 5 mortos. No México, epicentro da questão, 23 mortos. Em todo o planeta, com seus seis bilhões de habitantes, a pandemia já vitimizou mais de 500 pessoas.

Os governos de todo o mundo alertam que os mais suscetíveis à gripe são os idosos, crianças e mulheres grávidas. Também recomendam que não se viaje à Argentina ou ao México. Lavar as mãos freqüentemente com água e sabão, evitar tocar olhos, boca e nariz após o contato com superfícies, não compartilhar objetos de uso pessoal, cobrir a boca quando tossir ou espirrar, são conselhos úteis e revelam boa educação.

Quando a novela começou eu estava me perguntando de onde veio isso tudo. Será um indicador do final dos tempos, como as pragas do antigo Egito ou as profecias de Nostradamus? Quinhentas pessoas, em todo o mundo, em três meses de doença? Onde iremos parar?

Uma gripe, que surge do nada, no meio dos porcos e que passa a atacar seres humanos, levando-os à morte. Uma praga enviada para nos punir.

A gripe se chamaria Mexicana, porque a origem tinha sido do México, e também para contrastar com a Espanhola. Os mexicanos chiaram, dizendo que o turismo ia cair. Depois se chamou suína, porque vinha dos porcos. Os criadores de porcos reclamaram sobre a queda dos preços da carne. De forma que recorreram aos cientistas que chamaram a gripe de Influenza A (H1N1), nome dado ao vírus.

Influenza A (H1N1). De onde veio isso?

A cidade de La Gloria, próxima de Oaxaca no México foi o foco inicial da gripe. Duas crianças morreram da gripe. Edgar Hernandez, um menino de quatro anos, é tido como o caso inicial da gripe que ameaça o mundo. O senhor Joseph Luter Terceiro diz que é uma infeliz coincidência que dois de seus criadouros industriais de porcos fiquem em cidades vizinhas de La Gloria: Xaltepec e Perrote.

O gerente da Smithfield em Xaltepec, Sr. Vitor Ochoa, disse que os quinze mil animais são vacinados regularmente; que a fábrica atende aos mais altos requisitos de higiene e saúde e ainda, que a piscina com a merda dos porcos, resíduo gerado pela fábrica, é fechada hermeticamente, para evitar contato com o ar. Os porcos de Xaltepec são tratados como reis! A eles, basta comer, crescer e virar presunto.

Por outro lado, um em cada seis, dos três mil habitantes de La Gloria relataram problemas de saúde. Também mencionam que suas casas estão sempre repletas de moscas e que isso poderia ser a causa de tantos problemas. O governo mexicano inicialmente achou que o surto de La Gloria era de uma gripe convencional, mas quando as coisas se complicaram, a primeira providência foi aplicar inseticidas para combater as moscas.

A Smithfield costuma ter alguns problemas com a higiene. Onde quer que haja uma fábrica da Smithfield no mundo, existem ativistas ambientais realizando protestos contra as suas práticas. Moscas, cheiro de merda ou carniça e porcos roídos por vermes são algumas das queixas mais comuns dos afortunados vizinhos de seus criadouros. Em 1997, pagou ao governo Norte Americano uma multa de US$ 12 milhões por violar uma lei sobre a limpeza da água. Em 2007 foi acusada por moradores do Missouri de violar a ordem pública. No mesmo ano, gastou US$ 13 milhões para conter um surto de gripe suína na Romênia.

Quando a Smithfield procura um lugar para abrigar uma de suas fazendas, verifica a flexibilidade das leis locais, o custo dos oficiais de justiça, a docilidade da população e a abundância de água. Segundo o Sr. Joseph Luter Terceiro, de sessenta e sete anos, sua empresa está sempre aperfeiçoando seus criadouros de porcos e os ambientalistas são apenas gente neurótica com um funesto plano de tornar toda a gente vegetariana.

Ok. Eu avancei demais o sinal.

Os funcionários da Smithfield estão apenas fazendo o seu trabalho e o Sr. Joseph Luter Terceiro é apenas um sujeito bem sucedido no seu ramo de negócio.

Vocês podem estar imaginando que eu estou sugerindo que essa fábrica seja fechada, que seu dono e os acionistas sejam indiciados por crimes contra a humanidade, que paguem indenizações para o tratamento contra a super-gripe em todo o planeta e que financiem a pesquisa para a vacina, distribuindo-a gratuitamente a cada pacote de carne de porco enlatada que eles vendem.

Acho melhor pararmos por aqui.

Nossa conversa está ficando cada vez menos lucrativa.

Smithfield! (como se estivesse espirrando)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Último Segundo

Eu me lembrava de um filme e via o bombeiro salva vidas de sunga vermelha.


E então eu dava risada, porque me ocorria uma piada preconceituosa sobre homosexuais e bombeiros de sunga vermelha.


E então eu estava me afogando, porque havia tentado salvar meu filho.


Virava a cabeça para o lado e via que eles estavam tentando reanimá-lo, mas que nós o havíamos perdido.


Eu então morria.


Eu pedia a Deus que não me levasse ainda, porque eu queria acompanhar os meus filhos crescendo, fazendo as suas escolhas, aprendendo a estar aqui e nessa hora, algo em mim perguntava se realmente eu acreditava que quando eu fosse embora, eu não estaria mais em companhia deles.


E eu me lembrei do meu avô.


E de como eu sentia a presença dele comigo, mesmo depois que ele parecia ter ido embora.


E nessa hora eu me dei conta de que eu sempre estive aqui e sempre estaria.


Até aquele momento eu achava que a vida era uma espécie de piada, porque havíamos nascido sozinhos e morreríamos sozinhos e que durante toda a experiência estávamos submetidos à companhia de outros. Mas que a verdade profunda é que estamos sempre sós.


No último segundo de vida, eu me dei conta de que nunca estive só, nem nunca estarei.


E agradeci por estar na companhia de todos vocês.


De tudo.



Do Todo.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Dia 7

Acordei no sétimo dia, me dando conta do tempo.


Sete dias. Uma semana. No meio do vazio.

Tudo o que eu mais queria na vida.

Me livrar da companhia de qualquer outra coisa. Saber o que eu era, pela exclusão das demais coisas.

No deserto, o que não era o nada era o eu.

Calculava eu, matematicamente.

Sete dias e ontem a fome começou a ser mais uma companhia insuportável, como tinham sido o sol, a areia, o cacto...

O cacto.

Sempre o maldito cacto e sua inocência.

O cacto morto, que me assombrava a consciência. Desde o cacto eu tinha me tornado mais agradável às minhas companhias imprevistas.

Quantos dias eu vou ficar aqui?

Perguntei-me, de repente como que para afastar da cabeça a imagem do cacto.

Quanto tempo eu vou agüentar?

Parecia ser a real pergunta.

Como se a morte do cacto trouxesse a mensagem da minha própria duração.

Como se a fome e o vazio estivessem cavando a minha sepultura.