Um deserto - Dia 5
Não acordei no quinto dia. Achei que era o sexto ou o sétimo.
O deserto cansava-me.
O assassinato cansava-me.
O sol cansava-me.
A boca estava toda fodida e isso acabava com meu passatempo favorito que era o de ralhar.
"Que se foda" - pensava, sem poder dizer. Atirei ao longe o que restara do meu assassínio.
Havia uma inutilidade naquilo tudo que me irritava profundamente.
"Porque diabos me meti aqui? Que queria eu com isso?"
Perguntava-me e em silêncio me ignorava.
Nem mesmo o cajado me era companhia. Agora eu pretendia me livrar dele, para não macular minha memória com o assassinato de um cacto paralítico.
"Se eu andasse, para onde iria?" Perguntei-me, quebrando o cajado.
E o deserto zombava de mim estendendo suas garras em brasa por sobre o meu corpo.
"Não vou sair daqui. Se há um deus, vou achá-lo."
E minha busca começou, não por esperança ou fé.
Por teimosia e raiva.
E apertei o passo, sem rumo, invadindo as areias.
quarta-feira, 16 de novembro de 2005
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