quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Um deserto - Dia 5

Não acordei no quinto dia. Achei que era o sexto ou o sétimo.

O deserto cansava-me.

O assassinato cansava-me.

O sol cansava-me.

A boca estava toda fodida e isso acabava com meu passatempo favorito que era o de ralhar.

"Que se foda" - pensava, sem poder dizer. Atirei ao longe o que restara do meu assassínio.

Havia uma inutilidade naquilo tudo que me irritava profundamente.

"Porque diabos me meti aqui? Que queria eu com isso?"
Perguntava-me e em silêncio me ignorava.

Nem mesmo o cajado me era companhia. Agora eu pretendia me livrar dele, para não macular minha memória com o assassinato de um cacto paralítico.

"Se eu andasse, para onde iria?" Perguntei-me, quebrando o cajado.

E o deserto zombava de mim estendendo suas garras em brasa por sobre o meu corpo.

"Não vou sair daqui. Se há um deus, vou achá-lo."

E minha busca começou, não por esperança ou fé.
Por teimosia e raiva.

E apertei o passo, sem rumo, invadindo as areias.

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