Eu me lembrava de um filme e via o bombeiro salva vidas de sunga vermelha.
E então eu dava risada, porque me ocorria uma piada preconceituosa sobre homosexuais e bombeiros de sunga vermelha.
E então eu estava me afogando, porque havia tentado salvar meu filho.
Virava a cabeça para o lado e via que eles estavam tentando reanimá-lo, mas que nós o havíamos perdido.
Eu então morria.
Eu pedia a Deus que não me levasse ainda, porque eu queria acompanhar os meus filhos crescendo, fazendo as suas escolhas, aprendendo a estar aqui e nessa hora, algo em mim perguntava se realmente eu acreditava que quando eu fosse embora, eu não estaria mais em companhia deles.
E eu me lembrei do meu avô.
E de como eu sentia a presença dele comigo, mesmo depois que ele parecia ter ido embora.
E nessa hora eu me dei conta de que eu sempre estive aqui e sempre estaria.
Até aquele momento eu achava que a vida era uma espécie de piada, porque havíamos nascido sozinhos e morreríamos sozinhos e que durante toda a experiência estávamos submetidos à companhia de outros. Mas que a verdade profunda é que estamos sempre sós.
No último segundo de vida, eu me dei conta de que nunca estive só, nem nunca estarei.
E agradeci por estar na companhia de todos vocês.
De tudo.
Do Todo.