Espremidos em seus carrinhos, solitários.
Às seis da tarde eles mal se movem.
Estão exaustos de suas ações sem-sentido.
Precisam chegar logo em casa e certificar-se de que o sacrifício vale a pena. De que as suas coisinhas estão todas lá e as contas pagas. O saldo está em azul e é possível investir em qualquer outra coisinha, que vai atulhar a sua casinha ou outra.
Buzinam, porque em sua frente existe um outro carrinho. E outro. E outro...
Sempre mais lento que o dele. Sempre mais estúpido que ele.
“Trabalho o dia inteiro e ainda preciso suportar isso”, pensam todos juntos.
No ônibus estão os sem-carro.
O contato indesejado com o corpo estranho do outro. Seus cheiros e demandas.
“Preciso sair. Preciso sentar. Preciso ficar de pé.
Ali uma velha ou uma grávida. Preciso fingir que durmo.
Estou tão cansado. Alguém cedeu o lugar, graças a Deus”
Os sem-carro esperam o dia em que se moverão dentro de seus caixõezinhos.
Se moverão?